domingo, 28 de fevereiro de 2010

A defesa do espectáculo

Em vários estádios ingleses podemos constatar que todos os intervenientes sejam eles jogadores, treinadores ou dirigentes que não defendam o espectáculo são vaiados pelo público independentemente do clube a que pertencem.

A cultura inglesa é esta, clubite de lado e a paixão pelo jogo, futebol, acima de tudo!

http://www.abola.pt/nnh/ver.aspx?id=195290

É esta cultura agonística que faz com que a liga inglesa seja a mais apaixonante do mundo!

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Superliga

Passadas 20 jornadas do campeonato, ou seja, dois terços do mesmo temos, ao contrário dos últimos anos, a decisão do título em aberto, a luta pelas competições europeias ao rubro e a habitual luta pela manutenção continua quente.

6 pontos separam o primeiro do terceiro colocado sendo que o” fenómeno” SC Braga continua e ao que parece lutará pelo título até a última jornada da prova, os meus 6 pontos são a diferença entre o 4º classificado e o 11º.
No fundo da tabela temos a habitual luta para a sobrevivência que parece ser a quatro: Olhanense, Vitória Setúbal, Leixões e Belenenses.

A decepção do campeonato é o Sporting CP está envolvido, neste momento, na luta pelas competições europeias sendo que têm como objectivo de época, assumido pelo seu presidente, ficar em 4ºlugar no campeonato.

Uma série de equipas encontram-se em condição de lutar pelo quarto lugar contudo a maioria estará mais preocupada em olhar para baixar e garantir desde logo a manutenção na Superliga.
Vitória de Guimarães, Marítimo, Nacional e Leiria parecem ser as mais aptas para lutar pela presença na Liga Europa com o Sporting os restantes: Paços de Ferreira, Rio Ave, Académica e Naval não parecem ter capacidade de lutarem verdadeiramente por este objectivo tendo “apenas” ambição de permanecer no escalão máximo no futebol nacional.

Neste campeonato da manutenção temos os quatro, referidos no segundo paragrafo, como “favoritos” à descida não só pela soma de pontos conquistada até ao momento como pela inconstância exibicional.

A Naval 1ºMaio e a Académica estão nesta luta contudo a vantagem pontual alcançada, 7 e 8 pontos respectivamente, é uma boa almofada para ter sucesso neste particular campeonato.

A sensação da prova aconteça o que acontecer é o SC Braga.
Possuindo um orçamento muito menor que os chamados grandes do nosso futebol, à entrada para a recta final está em 2ºlugar do campeonato à frente de dois deles e tendo nesta fase, praticamente, garantido na pior das hipóteses ser o 3º classificado e portanto para além do acesso à Liga Europa também a garantia, para a equipa de Domingos Paciência, de fazer história em Braga visto este clube nunca ter estado no pódio de um campeonato nacional.
A um escasso ponto do SL Benfica que comanda o campeonato, situação que não se verifica à vários anos, e com vantagem de cinco pontos do tetracampeão nacional, FC Porto.
Dependo apenas de si, visto ainda ter de visitar o estádio da Luz, o Braga entra no último terço a discutir o campeonato nacional com SL Benfica e FC Porto.

O FC Porto com a contratação de Inverno, Ruben Micael, parece ter estabilizado a equipa, os seus processos e ter subido um degrau na qualidade e eficácia do futebol praticado.
A vitória na última jornada por 5-1 ao SC Braga no Dragão é bem elucidativa da capacidade do campeão.
Apesar da distância, o FC Porto está na luta pela reconquista do campeonato podendo assim manter a esperança de conquistar o pentacampeonato.

O grande favorito pela qualidade do futebol apresentado, principalmente na primeira volta do campeonato, é o SL Benfica.
A liderança isolada chega no inicio da recta final deste contudo a qualidade do futebol praticado têm vindo a diminuir nas últimas partidas, poderíamos apontar várias razões contudo não passariam de especulações.
A realidade é que os encarnados de Lisboa ainda receberão o Sporting CP e o SC Braga na Luz e terão de viajar até ao Dragão na penúltima jornada do campeonato.
O calendário não se afigura fácil para os lisboetas, até pela sobrecarga de jogos que pode vir a ter com uma participação positiva na Liga Europa.

O FC Porto também ainda está na Champions pelo que em termos de desgaste o SC Braga terá vantagem restam-lhe 10 jogos para concluir a época enquanto aos adversários directos no mínimo faltaram 12 ao SL Benfica e 14 ao FC Porto.

Nesta fase da época, o FC Porto é a única equipa da Europa que pode vencer todas as competições onde participou durante a época.

Os dados estão lançados, esperamos que vença o melhor e que o futebol português saia valorizado.

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Wolverhampton multado...

Será razão suficiente para elaborar um post sobre o facto?

Pois bem, observe o leitor o porquê da multa.

http://www.abola.pt/nnh/ver.aspx?id=194104

Esta situação pode ser analisada de três prismas: do clube “Wolves”, dos adversários directos, da competição.

Na perspectiva do clube Wolverhampton, o seu técnico abordou o calendário com pragmatismo identificou onde existiam maiores probabilidades de sucesso, poupou, no seu entender, os melhores jogadores para atingir esse objectivo e cumpriu as expectativas...Perdendo com o candidato ao título Manchester United e vencendo o Bolton seu directo adversário na luta pela permanência.

Na perspectiva dos adversários directos, Manchester United e Bolton, podemos considerar que o primeiro saiu beneficiado pelo facto de teoricamente ter um oponente mais fraco e o segundo prejudicado pela existência de um oponente mais forte.

Na perspectiva da competição, indirectamente, os concorrentes directos do M. Utd. saíram também prejudicados pela, teoricamente, menor resistência imposta pelo “Wolves” sendo que os adversários directos poderão queixar-se de algum prejuízo da soma de pontos desta equipa contudo neste caso será menos evidente visto implicar a derrota de outra equipa concorrente directa.

A organização da competição enquanto guardiã dos valores da competição, enquanto garantia da execução dos regulamentos e enquanto promotora do espectáculo deliberou que a atitude do clube em causa não cumpriu os regulamentos vigentes, não contribuiu para o espectáculo e não dignificou a nobreza agonística defendia pela mesma.

“A Federação considerou agora que o clube não cumpriu dois artigos dos regulamentos, ao não apresentar a melhor equipa possível e ao não respeitar as suas obrigações em relação aos outros clubes e aos organizadores da Premier League.”

O princípio que tem por base este regulamento é nobre contudo juridicamente dúbio, diria eu.

Será que a Federação está melhor preparada que o treinador da própria equipa para definir qual será a melhor equipa possível para apresentar?

Qual é o critério utilizado para detectar que não foi utilizada a melhor equipa?

E se o “Wolves” tivesse arrancado pontos ao United? A decisão seria a mesma?

Quando os clubes que disputam várias competições nacionais e internacionais em simultâneo promovem a rotatividade dos seus planteis também estão a incumprir os regulamentos?

Enquanto treinador, fico reticente relativamente ao facto de um elemento exterior, seja ele qual for, interferir nas “minhas” opções e punir-me pela gestão que entendo ser correcta do grupo de trabalho tendo enquanto os “meus” meios e os objectivos que proponho obter com estes.

Enquanto adepto, fico radiante pela exigência de qualidade e pelo “esforço” da organização da Premier League em tentar melhorar o espectáculo e fazer de cada jogo um evento marcante para todos.

Talvez seja esta cultura que faz a Premier League ser a liga europeia mais vista no mundo.

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Entrevista ao amigo Ricardo Galeiras

Esta pequena conversa irá abordar vários temas do futebol jovem, identificar algumas caraterísticas do mesmo no norte do nosso país e dar a conhecer a experiência de um amigo/colega nestas andanças.

Agradeço, desde já, ao amigo Ricardo Galeiras com quem tenho partilhado, discutido, teorizado ideias e experiências futebolísticas a disponibilidade para esta conversa.

BD: Podes contar-nos como começou a tua experiência no futebol e os pontos mais marcantes da tua carreira...

RG: Bom, antes de te responder, deixa-me agradecer por te lembrares de mim para esta pequena brincadeira, espero estar á altura e poder contribuir com algo positivo.

Respondendo á tua questão, a minha carreira, iniciou-se em 2004/2005 se não estou em erro como adjunto da equipa de Juvenis do Clube Recreativo Ataense em Gondomar. Fui convidado por um amigo que nutre a mesma paixão que nós pelo futebol, infelizmente por motivos pessoais ele teve de abandonar a meio da época e eu também saí.
Parei por um ano, até porque nessa altura estava a tirar a licenciatura á noite e não era compatível com o horário dos treinos.
Mas o bichinho do treino, do planeamento, da gestão e do futebol tinham renascido nessa meia época.
Um ano depois fui convidado de novo para ir para o mesmo clube e para a mesma função, mas de novo e a meio da época ele teve de abandonar e eu desta vez aceitei ficar com o “menino nos braços”, no final dessa época tirei o curso de treinador nível I e iniciei a época seguinte cheio de vontade.
A minha primeira época “a solo” é a que posso considerar a mais marcante, tinha um grupo de miúdos magnífico, com uma vontade de aprender enorme e com uma aplicação e assiduidade aos treinos acima da média. Lógico que tínhamos algumas fragilidades em termos de plantel, condições de trabalho, material, etc, mas quem não as tem?
Conseguimos um suado 2º lugar e fomos á 2ª fase disputar a subida, fraquejamos nessa altura muito por culpa própria, mas também por mérito dos adversários.
Esta época já ia em curso quando recebi o convite irrecusável para adjunto dos Juniores A do Sport Comércio e Salgueiros, digo irrecusável porque é o topo do futebol jovem, o campeonato nacional.
As coisas não correram muito bem e o treinador acabou por ser substituído.
Eu que estava no clube á 3 meses fui convidado a continuar, mas com outras funções, neste momento estou nos Juvenis A, também no campeonato nacional.

BD: Quais as principais diferenças que identificas-te na mudança de clube e de nível competitivo?

Em termos de competição as diferenças são brutais, passei de uma IIª Divisão Distrital de Sub – 17 para o Campeonato Nacional de Juniores Sub - 19 e como podes imaginar o nível técnico e o conhecimento táctico dos jogadores é muito grande, por isso a exigência de treino e de jogo têm de ser obrigatoriamente outra. Como última etapa da formação de um clube que quer andar no topo do futebol juvenil português nunca podemos descurar os resultados uma vez que o objectivo principal é a consolidação do escalão no nacional de Juniores, no entanto essa pressão nunca nos foi colocada, mas ela está lá em todos os jogos. Defrontamos clubes com uma estrutura a nível directivo, de jogadores e equipa técnica quase profissional e em alguns casos mesmo profissional.
Uma das coisas que mais me surpreendeu é que muitos dos jogadores, para não dizer quase todos, têm empresário. Se isso é bom ou mau não sei mas achei curioso.
Quanto ao clube, é apaixonante, o que fez com que vestisse a camisola logo no primeiro dia.
O Sport Comércio e Salgueiros é um dos 'grandes do norte', não é á toa que antigamente lhe chamavam o Benfica do Norte. Para fazeres uma ideia os seniores chegam a ter na 6ª divisão portuguesa (Iª Distrital do Porto) mais adeptos do que clubes da Liga Sagres, o ano passado tiveram médias de 3,000 pessoas a assistir aos jogos em casa e fora, eram o abono de família de muitos clubes. Meteram no estádio do Bessa 5,000 pessoas, é obra.
No entanto, com a crise financeira em que caiu á uns anos, as condições de trabalho não são as melhores, não temos campo próprio, treinamos sempre em meio campo, o que por vezes para trabalhar certos aspectos torna-se muito complicado, mas a direcção tem feito um trabalho extraordinário, está sempre presente e é incansável na procura de melhorar o dia-a-dia de quem lá trabalha.

BD: Qual a principal dificuldade que encontraste ao entrar a meio da época num campeonato tão exigente como o nacional de Juniores A?

Encontrei várias, mas destaco o balneário sem dúvida. Dou muita importância á união de equipa, tento sempre na pré época unir todos em torno dos objectivos, saber e conhecer cada atleta individualmente, saber como tirar mais de cada um. Com uma época em andamento esse trabalho, esse conhecimento tem de ser mais acelerado e quando entrei naquele balneário confesso que me assustei um pouco. Não queria entrar em muitos pormenores pois a época ainda vai em curso e acredito que aqueles miúdos têm qualidades suficientes para cumprir o objectivo final.

BD: Consideras essencial ter um bom balneário para chegar ao sucesso! Falaste em coerência, é a única estratégia que utilizas para criar um bom balneário?

Como te disse anteriormente dou muita importância ao balneário. Lógico que a coerência é necessária não só para o balneário, mas para a convivência com todos os agentes que te rodeiam, mas para o bom balneário não chega.

Tento sempre dar voz aos atletas, quero saber sempre as suas opiniões sobre os treinos, sobre os jogos, sobre os exercícios, o que está mal e o que correu bem, faço isso em grupo, quero que eles sintam que tem voz, que podem opinar, que podem sugerir, no fundo quero que todos sintam que são parte da solução.
No treino foco sempre a equipa, tento trabalhar a união, cultivar a ideia de que somos UM só, a atacar, a defender, a pressionar, a ganhar e a perder estamos todos no mesmo barco, pais incluídos.
As vitórias também são um bom catalisador, ajudam em tudo.

BD: A cada dia que passa se atribui maior importância ao trabalho de equipa, não só no desporto, mas tal importância surge através da evidência dos JDC (Jogos Desportivo Colectivos), o que nos tens a dizer sobre TeamBuilding, Dinâmica de Grupo, etc...

Essa é complicada e não sou um expert na matéria, longe disso. Pratiquei desporto desde os 8 anos e vivi em balneários com pessoas diferentes uma grande parte da minha vida e por isso mesmo considero a união/espírito de grupo, das coisas mais importantes em desportos colectivos.
Conviver diariamente com personalidades diferentes, com gostos e feitios diferentes não é para qualquer um e os que atingem patamares elevados são os que sabem que além do esforço individual é necessário fazer sacrifícios em prol do colectivo. Num barco onde vinte e tal pessoas remam em conjunto tudo corre bem, se um rema ao contrário cria um atrito desnecessário que mais tarde pode alargar-se aos outros, como um vírus contagioso.
Nos treinos faço sempre alguns exercícios que potencializem a união e melhorem a relação interpessoal, jogos que mostrem a todos que precisam da ajuda dos colegas para atingir objectivos, tentar mostrar que sozinhos num desporto colectivo ninguém consegue nada.
Há muito por onde ir nesta matéria, continuo a investigar. Como te disse há que estar sempre actualizado.

BD: Existe quem acredite que defender zona é o princípio para fomentar espírito de equipa. Concordas com esta afirmação?

Concordo. A defesa á zona como eu a concebo, exige uma entreajuda, uma ocupação dos espaços colectiva e que todos a percebam de forma a compensar desequilíbrios momentâneos. Ao trabalhar para atingir uma boa defesa zona, a equipa tem de perceber que se um erra toda a estratégia caí (Exagero, mas pode acontecer, ver golo do Sporting-Braga, taça da Liga). Por isso a motivação, a concentração, a entreajuda estão sempre presentes. Eu tinha no meu blog uma frase que me segue desde que entrei no futebol e que resume um pouco o que penso, “... se nós concentrarmos as nossas forças numa zona, enquanto o adversário dispersa as suas próprias forças em dez lugares, então nós seremos dez contra um quando lançarmos o nosso ataque.” adaptei-a um pouco ao futebol, mas é milenar, a original foi escrita por Sun Tzu em “A Arte da Guerra”.

BD: Nos distritais de Lisboa, futebol jovem, a maioria das equipas defende HxH, sendo que à medida que o nível competitivo aumenta o nº de equipas que defende zona aumenta também, contudo ainda detectamos algumas equipas que disputam o campeonato nacional a defender HxH. Qual é o panorama a norte?

Não cheguei a jogar com todas as equipas da nossa série, infelizmente, mas há algumas a jogar HxH. Umas defendem HxH puro e outras misto, ou o meio campo ou a defesa a marcar HxH.
As mais fortes normalmente defendem á zona, mas há pelo menos uma que está no topo da tabela que marca HxH na defesa...Foi o que me disseram, não tive oportunidade de os defrontar.

BD: Em termos de MJO, o mais utilizado é o Ataque Rápido e aí?

Aqui também é um pouco assim. Não há muitas equipas a jogar em posse e circulação.
Sabes, fui ver alguns jogos dos nossos adversários e ás vezes pensava que nunca iria ter futuro como treinador. Não sei treinar para jogar como algumas equipas jogam. Sinceramente não sei como treinar para ter 6 jogadores a defender, mais 4 miúdos rápidos na frente a correr como desalmados atrás da bola. Mas o certo é que isso dá resultados, pelo menos as equipas estão bem classificadas e ganham jogos. Se calhar quem está errado sou eu, sou um romântico, gosto de jogar bem, se ganhar tanto melhor. Quando digo isto os meus amigos dizem que sou um sonhador e que assim nunca terei futuro. Assim seja...

BD: Acreditas em inovações táctico-técnicas para o futuro do futebol? Por exemplo: novos sistemas tácticos, novos conceitos técnicos no jogo, novos princípios do jogo, etc...

É usual o povo dizer que está tudo inventado, mas a cada dia que passa somos surpreendidos por inovações magníficas, a todos os níveis.
No futebol a margem parece-me reduzida, mas sim, acredito que no futuro estaremos a discutir algo de novo.
Quando apareceu o Mourinho, poucos ou nenhuns, trabalhavam como ele, hoje há muita gente a seguir os seus passos e a forma como trabalha.
Estou convicto que os românticos vão tomar conta do futebol e em breve teremos mais equipas como a de Guardiola.
Não podemos prever o futuro, mas podemos criá-lo.

BD: Atrás na entrevista mencionaste um tema bastante actual que não posso deixar passar em branco, a existência de empresários no futebol jovem. Tens algo para nos dizer sobre o tema?

Todos sabem que os jovens têm sonhos, muitos dos jovens sabem que só com trabalho e talento podem não chegar lá, por isso quando são contactados por algum empresário que os valoriza, que lhes promete o alcançar do sonho deixam-se ir.
Não sou contra, compreendo, a minha missão é alerta-los para os perigos e para as falsas expectativas.
Enquanto tudo funcionar e andar cada “macaco no seu galho” não vejo problemas. Quando os empresários tentam pressionar o clube ou os técnicos para os seus jogadores jogarem a coisa piora. Não tive desses problemas, mas sei de quem os tenha, mesmo nas camadas jovens e não é fácil lidar com isso.

BD: Na maioria dos clubes, os pais dos atletas são os espectadores dos jogos, os patrocinadores, os críticos, os treinadores de bancada, etc. Na tua opinião, qual é a importância dos pais no futebol jovem e qual o papel que lhes reservas nos teus grupos?

Ai está uma excelente questão. Vou tentar não me alongar muito, mas este é um tema que para mim tem muita importância no futebol jovem.
A sociedade de hoje não tem tempo, não há tempo para nada, não há tempo para comer e por isso explodiu o fast food, andamos sempre a correr, algumas famílias nem tempo para si próprias têm.
Porquê separar os pais do processo? Se eles levam os miúdos ao treino e gostam de ver os treinos, se os levam aos jogos e gostam, vibram, sofrem, discutem, porquê separa-los? Há treinadores que não querem falar com os pais. O único relacionamento que tem é o cordial bom-dia e/ou boa-noite. Eu prefiro outra abordagem, gosto de ouvir, gosto de saber o que pensam, mas dentro de certos limites, não posso por em causa o que acredito e as minhas opções técnicas e tácticas, no fundo peço-lhes que me encarem como um professor, certamente que vão á escola saber como vai o filho nos estudos, mas não vão perguntar aos professores porque não chamam o filho ao quadro.
Peço o mesmo para mim, questionem-me quando quiserem, mas não me perguntem o porquê do filho não jogar.
Nas minhas equipas os pais fazem parte do plantel, para o bem e para o mal. Se precisamos deles para dar boleia para os jogos porque os clubes não tem transporte, se precisamos deles para levar os miúdos aos treinos, porque não dar-lhes um pouco também? Fazer com que se sintam parte do grupo, que ajudem os seus filhos a atingir os objectivos. Normalmente no início da época convoco os pais para uma conversa, onde explico o que vou tentar fazer, os objectivos e onde pergunto se querem sugerir algo, depois disso estabeleço as regras do jogo. Pai de atleta da minha equipa tem de estar para apoiar, para ajudar, para reflectir e motivar o filho mesmo que não jogue, quando o miúdo chega a casa a primeira pergunta tem de ser: Jogaste? E não o, ganhaste?
Não admito pressões e “bocas”, se exijo aos filhos respeito pelas regras e disciplina não posso permitir que um pai o faça. Já tinha estas ideias desde miúdo, em que via os pais dos meus colegas sempre aos gritos e em grandes discussões nos jogos, alguns dos meus colegas até ficavam envergonhados pelas figuras que os pais faziam, por isso depois de uma época complicada em que os meus miúdos pediam aos pais para se calarem durante os jogos, coloquei estas ideias em prática.
Esta época, soube que um miúdo saltou o muro durante um jogo para tirar satisfações de um pai que o estava a pressionar, como é óbvio foi expulso. Nem sei como classificar isto.
Acabei por me dispersar, mas as ideias base ficaram.

BD: Quais consideras ser os principais requisitos para um treinador ter sucesso?

RG: O primeiro que me ocorre é estar sempre actualizado. Seja ler livros sobre o tema, ler artigos na net, ver vídeos, trocar ideias com colegas, no fundo tudo o que te faça pensar futebol.
Em segundo e não menos importante, penso que o treinador tem que ser muito coerente com todos os que o rodeiam, principalmente com os jogadores, sobretudo com os das camadas jovens, os miúdos pegam em tudo e lembram-se de tudo o que dizes, se prometes algo eles vão cobrar mais tarde ou mais cedo.
Posso considerar que ser um bom “gestor de humores” como eu gosto de lhe chamar, também é muito importante. Um bom balneário, um grupo coeso e onde todos são importantes e sabem que são úteis ajuda muito.
A organização, o empenho que pões em cada tarefa, o discurso, tudo é importante.
Há ainda, vários factores externos que também serão importantes, mas estes que enumerei são os que podemos controlar, dependem de nós, da nossa capacidade.
Se acho que com uma boa estrutura, num clube organizado onde todas as épocas caem centenas de jogadores nas captações, ou que até podemos ir buscar os melhores de cada clube mais “pequeno” podemos ter sucesso? Podemos, mas sem o que enumerei esse sucesso será momentâneo e não tem o mesmo sabor.
O treinar para mim não é uma ciência exacta, não há fórmulas para vencer, mas se estiveres actualizado se estudares, se aprenderes com os teus erros certamente serás melhor do que eras ontem.

Para te conheceremos um pouco melhor...

Como te defines como treinador? Calmo, por vezes impulsivo, acho que justo e tento ser coerente.
Qual o teu objectivo no futebol? Encaro o futebol como um hobby: Mas é como o Euromilhões, se aparecer algum convite bom, não digo que não. O maior objectivo é passar algo de bom aos mais novos, ver nos meus erros de jovem algo de bom e tentar que não façam o mesmo.
Qual o sistema táctico que preferes? Um misto de 1-4-4-2 Losango e um, 1-4-1-3-2, mas nas minhas equipas joguei sempre em 1-4-3-3.
Qual o jogador preferido? Actualmente, Andrés Iniesta.
Qual o teu onze ideal? Peter Schmeichel o melhor que vi até hoje, Cafu defendia e atacava com a mesma qualidade e ao mesmo ritmo durante os 90', Stam a força a rocha, Cannavaro ninguém diria que é um central, Maldini o melhor italiano dos últimos anos, Redondo classe pura, Zidane não tinha alegria a jogar mas jogava muito, Riquelme dos poucos que ainda me surpreendem, Cantona tinha tanto de mau feitio como de génio, Maradona o que me fez apaixonar por futebol e Romário ainda hoje me arrepio a ver os seus golos...
Qual a tua música preferida? You've Lost that love and feeling (The Righteous Brothers)
Qual o teu prato favorito? Arroz de Cabidela
O que fazes nos tempos livres? Infelizmente não são muitos, mas gosto de ler, ir ao cinema e andar um pouco pela net a “vaguear”.

Ricardo agradeço o tempo que dispensaste para esta brincadeira e desejo-te as maiores felicidades pessoais e profissionais.
Obrigado e igualmente, espero poder trabalhar contigo no futuro.